Sorriso Desmedido *
Sentada na beira da cama, de olhos arregalados, Germana mostrava os dentes sem pudores.
Na cama do lado, Crisolita debatia-se contra os braços do enfermeiro.
– Que tens tu, Crisolita? – mas as bochechas encovadas e a afasia herdada do AVC não lhe permitiam dar respostas.
Um sedativo encontrou-lhe o sangue, decisão do enfermeiro, incapaz de acalmar a velha.
Vencida, Crisolita bocejou com ganas, exibindo as gengivas desertas.
Ainda sentada, Germana roçava os joanetes um no outro. Sem conseguir fechar a boca, com baba a escorrer até ao queixo, arrependera-se.
Esta era demasiado grande. Mais valia ter roubado a dentadura à Marcolina.
* adaptado de um desafio mensal do Clube dos Writers