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09.08.24
Verme ressequido
Nas fendas dos muros caiados
Nas flores rubras exaltadas
Nos canos de ferro engalanados
Morreu, cantava-se, morreu!
O bicho morreu!
Morreu?
Ferida lambida, chaga infetada
Vareja contorcida na ânsia das asas
Latente.
Na vigília do ombro e da bainha da saia
No cabelo castrado da mulher casada
No dever da hóstia antes da vacina
No bigode, na taberna e nas putas das esquinas
Latente.
Rasteja e espreita
Pulsa nas paredes de tijolo e cimento
Que tanto protegem como deixam de contar
Vibra no acolher quem vier por bem
Desde que compre e consiga pagar
Latente.
Latente?
Ardente.
Remexe-se e esperneia
Estica o dedo e nomeia
A pertença da guerra distante
Indiferente
A cor que destoa da terra
De boa gente
Ardente.
Ardente?
Pungente.
Figueira do Inferno, espinhos, fedor
Ventre bojudo e colarinho engomado
Sorriso brilhante de dentes afiados
Ergue-se e clama a glória de brindar
É o sangue bilioso do meu servo embriagado!
É o corpo no charco que ecoa o meu legado!
Para a mulher, não. Não!
Para o velho, não. Não!
Para o pobre, não. Não!
Para o preto, não. Não!
Para os que sim, não. Não!
Para vós que cantais, não. Não!
E nós, aqui, dormentes.
Dormentes.
Dormentes?